Dandara acordou com o coração explodindo na maior felicidade. Era sexta de carnaval. Afastou os seus lençóis estampados de onça da cama com os pés e remexeu o corpo inteiro ainda afundada na cama. Queria sentir a energia daquele dia. Ouviu ao longe uma batucada, abruptamente se levantou e correu para a janela com a cara ainda inchada e os cabelos arrepiados. Ela queria ver o bloco passar.
Finalmente a batucada se aproximou e ela não se conteve: abriu as cortinas e arreganhou as janelas. Dançou na sacada da sua varanda no terceiro andar, cantou as marchinhas, mandou beijo para os foliões e ainda chamou os vizinhos para acompanhá-la, alguns aceitaram o convite, outros apenas observaram de longe a empolgação da moça. Depois do bloco passar, Dandara tomou um banho e vestiu sua fantasia de odalisca que conseguira comprar em cima da hora no dia anterior no Saara. Ela queria se fantasiar de colegial inspirada no clipe “Baby, one more time” da Britney Spears, mas não teve tempo de ir às compras durante toda a semana, então precisou correr para encontrar alguma loja aberta e a odalisca foi o que sobrou para ela. Pôs o glitter no corpo e se sentiu pronta. Como era bom se livrar dos jeans e das reuniões intermináveis do trabalho por um final de semana inteiro. Saiu de casa com a fantasia de fazer daquele o seu melhor final de semana. Sem bolsa, sem bolso, sem preocupações, só com a vontade de balançar dezenas de corações sedentos para viver o máximo que o carnaval pode oferecer.
Já tinha produzido o roteiro dos blocos com as amigas, o primeiro seria o “Mulheres de Chico”, mas ainda havia o “Simpatia é quase amor”, “Suvaco do Cristo” e o “Bagunça o meu coreto” naquele dia. Se enfiou no metrô com destino à felicidade. Mal podia esperar para se atirar em fantasias de piratas, homem das cavernas e lutadores pelas ruas do Rio. Enroscar a odalisca em algum sheik das arábias era o seu objetivo. Era o primeiro carnaval que Dandara curtiria solteira desde o término do noivado de cinco anos, apesar de emendar pequenos namoricos desde então. As amigas que insistiam no fato dela não conseguir ficar sozinha iriam morder a língua, ela dizia. Desejava se encher de confete e serpentina, esquecer onde morava e no que trabalhava. Intencionava ter paixões alucinantes a cada dez minutos de bloquinho em bloquinho. Só pensava em curtir aqueles dias do jeito que todos diziam ser o melhor.
Chegou no “Mulheres de Chico” e encontrou as amigas também fantasiadas e cheias de glitter com a mesma empolgação que ela exalava. Abriu a primeira cerveja assim que a banda do bloco tocou os primeiros acordes de “Sonho de um carnaval” em forma de marchinha, e lá foi Dandara em busca da própria quimera. Dobrou uma esquina e esbarrou em um cachorrinho procurando a dona. Ela, tão atenciosa com os animais, fez um gostoso carinho no rapaz vestido do bichinho, mas não podia ficar com o doguinho, havia mais carinho para distribuir por aí.
Partiu para outro bloco e lá deu de cara com um Coringa que arrancou umas boas gargalhadas dela e das amigas, e assim, o esperto vilão também arrancou-lhe um beijo. Passaram o bloco inteiro aos risos e aos carinhos, não conseguiram se desgrudar. Foram embora juntos do bloco.
Chegou o sábado e não conseguiram sair do apartamento. Dandara caiu na armadilha daquele anti-herói. O fim de semana foi de estripulias, risadarias e vilanices para os dois. Criaram planos, prometeram ir à Porto Seguro no próximo mês, fizeram folia na cama durante toda a segunda. Dandara não podia acreditar que encontrara um novo amor de uma maneira tão incomum. Fizeram daquele lugar uma fortaleza, um esconderijo de toda a agitação do carnaval. De odalisca à Alerquina.
A terça chegou, e ele se foi. Não deixou telefone e endereço, como só um bom vilão sabe fazer. Um carnaval foi tempo suficiente para viver um amor, o Coringa pensou.
Para Dandara, a quarta foi cinzenta. Assim como o resto da sua semana…